07/10/2025

Estou "sozinha" e tudo bem

 Uma das coisas faladas  na Clinica onde me internei, fora que muito fora de lá poderia mudar após a internação, é que a vida ficaria mais vazia e solitária. O preconceito e estigma é muito alto, até muitas vezes de quem está lá internada. Minha mente mudou e sinceramente não tem sido fácil, sempre fui de poucas amizades e depois que saí de alta decidi me desvincular de pessoas. Elas mudaram? Não, eu mudei...

A percepção sobre a vida, solidão e envelhecer que eu tinha mudou e não sei se eu caberia ainda mantendo as amizades de pelo menos dez anos. Ser sozinha, estar e ter a solidão como companheira são  coisas diferentes...pelo menos estou encarando assim. Meu companheiro disse que muitas pessoas se realizaram depois dos quarenta, isso foi extremamente reconfortante em ouvir, foi até um alento e tanto.

Lidei com pessoas na clínica com idades diversas, vidas diversas, mas a maioria tinha idade o suficiente para ser minhas mãe , por isso que o meu maior baque foi sobre envelhecimento. Muitas assim como eu, estavam ali por conta de surto, outras por vícios ou porque seus transtornos deixaram-nas no fundo do poço e algumas internações foram voluntárias. Vai por mim, a vida aqui fora blinda a gente de muitas coisas...Eu não tive acesso á internet por dois meses, isso me mudou.
Cruzar por várias histórias de vida, me fez perceber que eu não poderia mais me arrastar e ser arrastada por fantasmas e vínculos. A terapia faz a gente notar quando o lugar que um dia foi de pertencimento, te constrange por apenas estar frágil.

Eu poderia estar escrevendo isso em um diário e guardando para mim, mas como livros famosos com quase nenhum review na Amazon, aqui sei que pessoas leem e se identificam. A pluralidade de textos anônimos me ajudaram muitas vezes e nem sempre eu deixava minha passagem por eles registradas. Pra finalizar, vou refletir em cima de um texto sobre pessoas que não foram protegidas no começo da vida, pessoas que levam metade de uma vida para curar-se, pois sou uma dessas pessoas.

Falar sobre fragilidades em um blog pode parecer ultrapassado, eu de fato gostaria de um layout mais a a minha cara, fofo, mas a depressão roubou de mim a minha criatividade e muita coisa por hora, não me cativa como num passado não muito distante. O que `sustenta´ é ainda ouvir música, mas não com o mesmo ímpeto da primavera passada. A depressão só não roubou no passado o tempo por completo, mas roubou de mim a vontade de cursar uma faculdade, a grana ia pro tratamento e o que sobrava era pro divertimento/fuga.

Ainda é o mérito de um CID não identificado o meu surto, mas carrego que foi o desespero de uma mente em pedaços pedindo socorro, eu que sempre procurei estar ali, recebi foi ausência de quem eu admirava. O mundo anda muito ocupado rolando os feeds, se alguém morre só, o que resta como uma ultima faísca é uma foto feia com uma nota solene nos stories. Meu surto teve um enredo, saiu do controle e eu só pude ouvir minha voz ecoando sozinha, ou, palavras que só ramificavam e validavam a vontade alheia. Disse Adeus, dei block no Whats e fiz questão de esquecer o número de telefone, parece drástico, mas eu só estava só e cansada. Falar o que me levou a surtar me dói, mas apenas digo que fui desvalidada e isso doeu, mais do que o motivo no qual me levou a quase ficar fora de mim e me perder.
Falei com franqueza sobre o que muitos julgam como fraqueza... 

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